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GLAM ROCK: um panorama

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O SEBO BARATOS PROMOVE MUITOS EVENTOS MUSICAIS. “Vespeiro” é quando tem música ao vivo na livraria. Toda quinta-feira convocamos um colecionador para que traga alguns de seus LPs prediletos, para escutar na companhia dos amigos: o auê é gravado, o cara faz uns comentários, e o resultado é o programa CLUBE DO VINIL, que vai ao na web rádio Graviola: http://www.radiograviola.com/

Em 2016 realizamos um Clube dedicado ao glam rock. Em 30 de setembro de 2017 rolou a segunda edição, com ainda mais pompa – misturando clube do vinil e vespeiro. A FESTA GLAM é DJs Maurício Gouveia & Raphael Rataus + show da Vulcana V(acompanhada de Pedro White na guitarra e voz e do Roberto Pedretti no piano) + maquiagem de Vanessa Brito + cenografia e iluminação de Rosanna Aliprandi e Bia Andrade.  

DURANTE A DIVULGAÇÃO PUBLIQUEI UMA SÉRIE DE ARTIGOS SOBRE O GLAM ROCK. Estão todos compilados aqui:


SOMOS FÃS DO BOWIE. E tocamos, sempre que dá. O especial Glam do Clube do Vinil é um convite para que você conheça melhor um certo momento da carreira do Camaleão, e escute outros tantos artistas que estavam, naquele momento, fazendo aquele tipo de som.

Londres, início dos anos 70. Guitarras furiosas + pianos singelos. Ficção científica + canções de cabaret. Travestis + gângsters. Glamour + decadentismo. Óperas espaciais + folhetins de sacanagem. & muito glitter.

Tudo começa com "Hunky Dory", em 1971.... tem seu ápice entre "The rise and and fall of Ziggy Stardust & The Spiders from Mars" e "Alladin Sane".... e fecha com "Diamond Dogs".

A carreira de Bowie teve muito mais altos do que baixos, e, na minha opinião, a partir da trilha sonora de "Buda do Subúrbio" (série da BBC de 1993) ele volta com força total. Sua obra setentista é absolutamente incrível, mas vários discos recentes alcançaram o mesmo patamar: "Outside" (1995), "Heathen" (2002), "Reality" (2003) e "The Next Day" (2013) são discos que amo tanto quanto "Station to Station" ou "Heroes".

No início de 2017 fizemos um Clube do Vinil todo dedicado ao David Bowie. Foram 59 canções cantadas por ele mesmo + umas originais dos covers que ele fez + covers dele por outras bandas. 67 faixas no total, incluindo aí umas raridades dos anos 60 - Davie Jones & The King Bees , Davy Jones & The Lower Third e David Bowie & The Buzz. O setlist completo está aqui: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1613503692000189&set=a.1613503672000191.1073741870.100000217211208&type=3&theater



O rock´n´roll excita, sempre excitou. O rock foi inventado pela geração pós-guerra, desencantada com as velhas ideologias, certa de que era hora de inventar um novo modo de viver, em que o gozo é um dos direitos fundamentais. Até porque tudo pode acabar em bomba atômica: então o melhor se divertir enquanto é tempo!

Quando Elvis Presley se apresentou na TV pela primeira vez proibiram filmá-lo da cintura pra baixo, porque aquele rebolado era perigoso! A primeira canção banida das jukeboxes e rádios norte-americanos foi "rumble", do Link Wray, em 1958, porque incitava à lascívia.

O GLAM ROCK foi apenas um momento. Não um movimento, não uma escola. Todo mundo viu, mas mal deu tempo de dar um nome praquilo. E na verdade a primeira febre foi batizada de T.REXTASY:

Em meados dos anos 60 Marc Bolan foi guitarrista solo do John´s Children: banda tão louca que partiu em turnê com o The Who, abrindo os shows, mas foi mandada de volta pra casa porque seu show era mais selvagem do que o dos headliners! Em 1967 nasce o Tyrannosaurus Rex; um duo folk psicodélico (com várias pitadas de música indiana) que foi apadrinhado pelo John Peel (que inclusive lia poemas no meio dos shows da banda), da rádio BBC. Tony Visconti, que produziria toda a discografia de Bowie na década de 70, também chegou junto.

Lá por 1969 a outra metade do Tyrannosaurus Rex, o percussionista Steve Peregrin Took, começou a pegar pesado, em termos musicais e toxicológicos. Acabou indo tocar com o anárquico coletivo Pink Fairies Rock 'n' Roll and Drinking Club. Talvez a melhor faixa dessa fase: "Cat Black (The Wizard's Hat)".

Entra então em cena Mickey Finn, e em março de 1970 sai o último disco, "A Beard of Stars", antes da redução do nome da banda para T. REX. As guitarras já estão mais nervosas: escute "Elemental Child". Ainda em 70, uma semana antes do Natal, sai meu disco predileto de Marc Bolan, gravado ainda no esquema duo, mas já soando mais power pop do que folky. "Diamond Meadows", "One Inch Rock", "Seagull Woman"...

E EM 1971 O REINO UNIDO ENLOUQUECE AO SOM DE "Ride a White Swan", o single produzido por Tony Visconti, que chega à segunda posição na parada de sucessos. O single seguinte, "Hot Love", é outro sucesso estrondoso, e o T. Rex vira um quarteto, com o adesão do baixista Steve Currie e do batera Bill Legend. No programa de TV "Top of the Pops" a maquiadora Chelita Secunda esvazia 2 potinhos de glitter na cara de Marc Bolan: e esse talvez seja o momento em que nasce o GLAM ROCK.

"Electric Warrior" (com uma capa incrível, obra do lendário estúdio Hipgnosis) é o LP que estabelece os parâmetros."Get It On" e "Jeepster" chegam ao topo das paradas, inclusive nos States. Várias outras bandas entram na onda - Slade, Sweet & tantas outras continuarão inspirando shows afetados e extravagantes com ênfase nos solos de guitarra por quase vinte anos: é essa fonte do "hair metal" de Poison, Cinderella e Twisted Sisters.... "The Sliders", de 1972, mantém a peteca no alto. "Metal Guru" está no álbum de covers do Guns´n´Roses.... O ano termina com o lançamento do filme "Born to Boogie" nos cinemas: com participação de Elton John e Ringo Starr.

E de repente, não mais que de repente, os críticos viram as costas para o glitter. Talvez por causa por "imitadores" de segundo escalão, como Gary Glitter e Bay City Rollers.... E, inexplicavelmente o excelente disco "Tanx"é detonado. Vende mal e ninguém entende pra onde Marc Bolan foi - arranjos mais ambiciosos, com mellotron e cordas e saxofone, letras mais melancólicas, menos festivas...

Bolan pira nas letras dos discos seguintes - "Bolan's Zip Gun" e "Zinc Alloy and Zip Gun" -, entra numa onda sci-fi e acaba sendo visto como um plagiador de Bowie. Bolan abandona o vegetarianismo, incha com hamburgers & muito álcool, e passa a ser ridicularizado na imprensa britânica. O Fisco cai em cima e ele é obrigado a se mudar pra Monte Carlo.

o T. REX se redimiu aos olhos da crítica e do público, mas a alegria não durou. O grande single "Laser Love" sai no verão de 76 e o LP "Dandy in the Underworld", lançado meses depois, é bem recebido. Na primavera saem em turnê com os punks do The Damned. A namorada de Marc Bolan, Gloria Jones, havia lançado um ótimo disco também - de onde sai "Tainted Love", que faria imenso sucesso com o Soft Cell, poucos anos depois.

Na manhã de 16 de setembro de 1977 Marc Bolan grava um programa de TV, com a participação de David Bowie. Voltando pra casa enfia o carro numa árvore e morre, duas semanas antes de completar 30 anos.

Steve Peregrin Took morre engasgado com um coquetel de cereja em 1980, depois de uma farra regada à morfina e cogumelos.

Fica a lenda. E os sons.


E O GLAM ROCK NOS STATES?!

Sabemos que David Bowie pirou com o Velvet Underground, produziu a obra-prima glam do Lou Reed (o LP Transformer) e tirou Iggy Pop da sarjeta. Tentou até produzir os Stooges – mas a banda odiou a mixagem que Bowie fez de “Raw Power”, disponível apenas em edições especiais com cara de pirata.

MAS ALICE COOPER FOI O PRIMEIRO, inclusive a alcançar o grande público. Vincent Furnier nasceu no Arizona em 1948 e cresceu em Detroit. Sua primeira empreitada musical foi durante o colegial, com um quinteto onde apenas um dos caras sabia tocar alguma coisa (a guitarra), e a zoeira era alterar as letras dos Beatles (em “Please Please Me” cantavam "Last night I ran four laps for my coach" ao invés de "Last night I said these words to my girl"). Ao gravar seu primeiro single, em 1965, a banda passou a se chamar The Spiders – não de Marte, mas, bem, eu não acredito em coincidências! ;-) A banda sobreviveu ao fim do high school e se mudaram pra L.A..

A banda Alice Cooper (sim, era o nome da banda e não do cantor!) criou seu visual inspirado em três filmes, segundo a autobiografia de Vincent: Bette Davis em “What ever happened to Baby Jane?”, Anita Pallenberg em “Barbarella” e Emma Peel em “The Avengers”. E a cenografia e iluminação foi inspirada em Salvador Dali – herança da Escola de Artes frequentada pelos músicos da banda.

REZA A LENDA que um show no Fillmore soou tão bizarramente ruim aos ouvidos de Frank Zappa, que o lendário compositor se sentiu obrigado a contratá-los para seu selo Straight Records. “Algo tão ruim só pode ser especial”, Zappa teria dito. Uma história indubitavelmente verídica corrobora a lenda: num show em Toronto, em 1969, uma galinha invadiu o palco por acidente. Alice (ok, se é assim que as pessoas conhecem o Vincent) superestimou o poder de vôo da galinha e a jogou sobre a plateia (esperando que ela se comportasse como uma pomba). A ave caiu sobre os fãs que usavam cadeira de rodas (tinham um lugar reservado à frente do palco) e os cadeirantes despedaçaram o bicho. Correu o boato de que Alice teria assassinado a galinha rasgando seu pescoço com os dentes. Zappa telefonou perguntando a respeito e Alice negou o crime, mas o patrão disse: “bem, faça o que fizer, mas não diga a ninguém que você NÃO fez isso!”.

Os dois primeiros discos do Alice Cooper são... esquisitos. Sob forte influência do Frank Zappa e, segundo eles mesmos, do Pink Floyd, não convencem como rock progressivo, um rótulo impreciso, mas ainda assim o único aplicável. Decidem voltar pra Detroit: e dividindo os palcos com os Stooges e o MC5, encontram seu caminho. Entenderam que bebiam cerveja, não tomavam ácido. Queriam sexo & grana, não paz & amor. Em novembro de 1970 o single “I´m eighteen” dispara pro topo das paradas! A turnê de 1971, com figurino extravagante, pitadas de horro gótico e o cantor sendo eletrocutado numa cadeira elétrica no grand finale, alcança a Europa, para deleite de espectadores como Elton John e um certo David Jones...

O show do disco “Killer”, no ano seguinte, inova ao levar uma cobra para o palco e a performance inclui a degola de várias bonecas com um machado. “School´s out”, de 1972, se tornou dos maiores hinos do rock setentista. No parlamento inglês o deputado Leo Abse propôs que a banda fosse proibida de se apresentar no Reino Unido. Em 1973 a banda quebra o recorde de público para shows de rock, anteriormente dos Stones. Em 1974 é a primeira banda de rock gringa a fazer shows no Brasil – ninguém sabe ao certo, mas fala-se num público de 158 mil pessoas em Sampa!

EM NOVA IORQUE O GLAM E O PUNK TAMBÉM ANDAVAM JUNTOS.

A turma do NEW YORK DOLLS (que foram o ato de abertura da turnê de 2011 do Alice Cooper) se conheceu no colégio e trabalharam com moda logo que tiveram de pagar as próprias contas: Billy Murcia e Sylvain Sylvain criaram uma confecção chamada “Truth and Soul”, depois Sylvain trabalhou na boutique masculina “A Different Drummer”, que ficava em frente ao ”New York Doll Hospital”, uma oficina de concerto de bonecas. Johnny Thunders e David Johansen estavam pela área desde cedo, e houveram algumas bandas, com diferentes combinações desses caras e diversos nomes, até a estréia definitiva na festa de Natal de um abrigo para sem-tetos no Endicott Hotel, em 1971.

Billy Murcia morre de overdose durante uma viagem á Inglaterra, e antes de contratarem Jerry Nolan chegam a testar um baterista chamado Marc Bell – que mais tarde ficaria conhecido como Marky Ramone. O disco de estréia, produzido por Todd Rundgren, causou reações inflamadas e antagônicas: em 1973 a revista Creem os elegeu tanto a melhor quanto a pior nova banda do ano! Então a banda toma uma decisão curiosa para o segundo álbum, “Too Much Too Soon”: contratam o produtor George “Shadow” Morton, especialista em girl groups dos anos 60 como as Shangri-Las. Não à toa um tal Morrissey funda um fã-clube, na Inglaterra....

Os New York Dolls tocaram muito no CBGB e no Max´s Kansas City, e foram empresariados pelo Malcolm McLaren (futuro idealizador dos Sex Pistols): convencendo a banda a trocar os vestidos de brechó – figuro ocasional dos shows – por roupas de vinil vermelho e bandeiras soviéticas – tática que, obviamente, deu muito errado. Uma carreira meteórica: apenas dois discos, o segundo de 74. Dois dos Dolls tiveram carreiras solos particularmente bacanas: Syl Sylvain e Johnny Thunders (que, no seu primeiro e melhor disco solo, foi acompanhado por craques do naipe de Phil Lynnot, Steve Marriot, Steve Lillywhite, Chrissie Hynde e Paul Cook, entre outros).

MAS JOBRIATH É O GRANDE TESOURO ESCONDIDO DO GLAM.

Para se ter uma idéia dos possíveis paralelos com David Bowie, Jobriath foi a inspiração visual para o fictício popstar Brian Slade, do filme “Velvet Goldmine”. (A marcante imagem dele nu sobre um divã de cetim roxo é assumidamente uma recriação dum outdoor que tentou vender Jobriath para os transeuntes de Times Square.) O cineasta Todd Haynes quis homenagear o glam rock, mas parece ter melindrado David Bowie, o único artista que proibiu o uso de seus fonogramas no filme. Pudera: o roteiro fala sobre um incrível compositor que simulou sua morte no palco e desapareceu (número imortalizado num show de Ziggy Stardust de 1973, lançado mundialmente nos cinemas 10 anos depois), e insinua que o golpe tenha servido para que o cantor se reinventasse como Tommy Stone, um astro cafona que causa furor entre o público careta, faturando alto com sua turnê de 1984 – uma interpretação discutível da Serious Moonlight Tour, que promoveu o platinado “Let´s dance”

Bruce Wayne Campbell viu no rock´n´roll uma rota de fuga.Nascido na Pennsylvania e criado no Texas, desertou do exército em poucas semanas e fugiu para L.A., onde se rebatizou Jobriath Salisbury, atuou na peça Hair e montou uma banda de rock psicodélico chamada Pidgeon – que lançou um único e fenomenal disco em 1969. Tio Sam o achou e o levou preso. O período passado num hospital psiquiátrico do Exército parece ter gestado sua encarnação seguinte.

Era 1972 e o empresário da Carly Simon, Jerry Brandt, passeava pelos escritórios da Columbia quando escutou uma demo-tape e se maravilhou.Brandt (sujeito bom de faro: descobriu Barry Manilow e e Patti Smith, por exemplo) salvou a fita do lixo e conseguiu para Jobriath Boone um contrato de meio milhão de dólares com a Elektra, um recorde para a indústria fonográfica até aquele momento. A campanha publicitária incluiu anúncios de página inteira nas revistas Vogue, Penthouse e Rolling Stone, posters em 250 ônibus em Nova Iorque e o tal outdoor em Times Square. A foto era do prestigiado Shig Ikeda: Jobriath nu, numa pose clássica de estátua romana. Jobriath queria que o show de estréia fosse em grandes casas de Ópera europeias, começando por Paris, com uma maquete do Empire State Building: “essa maquete se transformará num pênis gigante e eu me transformarei na Marlene Dietrich”, anunciou.

Nada disso aconteceu. Mas o disco foi lançado: “Jobriath”, de 1973, é magnífico. A imprensa especializada ficou de quatro: revistas como a Cashbox e a Record World não economizaram elogios. Produzido pelo próprio Jobraith (em parceria com Eddie Kramer), com ele assinando os arranjos de cordas executados pela London Symphony Orquestra, o disco é como um amálgama do rock´´n´roll mais funkeado do Alladin Sane e do lirismo camp de Hunky Dory. De um lado os pianos maliciosos de “movie queen” e “inside”, do outro o balanço irresistível de “rock of ages” e “world without end”. E faixas com um dinamismo e sofisticação de arranjos só comparável aos do Roxy Music, como “i´m a man”, “space clown” e “morning star ship”. A pretensão autoconfiante de um Bowie combinada ao despudor com que Marc Bolan se jogava no pop mais comercial.

A estréia televisiva de Jobriath foi no programa “Midnight Special, com roupas desenhadas por ele mesmo e coreografia de Joyce Trisler, do Joffrey Ballet. O show de lançamento do disco foi no The Botton Line, na Grande Maçã. E nada aconteceu. Os LPs encalharam. Seis meses depois sai o segundo álbum, “Creatures of the street”, com guitarras do Peter Frampton e bateria do John Paul Jones (Led Zeppelin). Nada de discos vendidos. Ainda houve uma turnê: o derradeiro show acaba depois de 5 bis, quando alguém da plateia aciona o alarme de incêndio. Foi na Universidade do Alabama.

Em janeiro de 1975 Jobriath anunciou que se aposentava e foi morar numa cobertura no Hotel Chelsea. Nos anos seguintes tentou uns papéis no cinema, cantou num restaurante-meio-cabaré chamado The Covent Garden e eventualmente se prostituiu. Em 1982 cantou no aniversário de 100 anos do Chelsea: mas a AIDS já o debilitava. Morreu em agosto de 1983. Jobriath foi pioneiro: dentre tantas razões está o fato de ter sempre assumido publicamente sua homossexualidade.

É curioso: talvez seja mais fácil nos lembrarmos de popstar ingleses com atitude gay ou performance andrógina, mas relações homossexuais foram criminalizadas até 1967 no Reino Unido– e a lei só mudou pra valer em 1982! E costumamos ver os ianques como cowboys, ainda que figuras visualmente muito “machonas” como James Dean sejam muito presentes na iconografia gay – haja visto a arte de Tom da Finlândia (pseudônimo de Touko Valio Laaksonen). Fato é que o pop europeu se inspira nos cabarés, enquanto o imaginação roqueira do outro lado do Atlântico está mergulhada na ficção cientítica e nos filmes de terror – um palpite muito pessoal, confesso.

Mas fato é que nos anos 80 a estética glam dominou as paradas norte-americanas, via a cena de hard-rock da região de Los Angeles, aquilo que costumamos chamar de “rock farofa” ou “poser” – e entre as bandas que o Guns´n´Roses (o canto de cisne do “hair metal”) homenageou no seu disco de covers, “Spaghetti Incident” (1993), estão o T. Rex, Nazareth e o New York Dolls. E o Def Leppard gravou um cover de Jobriath em 2006.

E a propósito: Morrissey procurou Jobriath para que fosse o número de abertura da turnê de “Your Arsenal” (1992), alheio ao fato que Inês era morta.


OS HITS DO GLAM ROCK:

o campeão de vendas do Glam é o SLADE: 17 singles consecutivos no top 20, 6 deles alcançando o primeiro lugar (todos compostos pela dupla Noddy Holder & Jim Lea), a bolachinha de “merry xmas everybody” vendendo 1 milhão de cópias, 6 milhões e meio de discos vendidos, somando todos os LPs e singles! Foram 315 semanas nas paradas!

Uma recompensa merecida para uma turma que ralou, e muito, pra chegar no topo. Vindos da região de Birmingham, mais exatamente da área de Wolverhampton, um dos mais antigos centros industriais da Inglaterra, essa turma trocou as minas de carvão pelos palcos dos pubs. O batera Don Powell e o guitarrista Dave Hill gravaram seu primeiro EP em 1964 (The Vedors, depois rebatizada de The N Betweens), Noddy Holder lançou seu primeiro single no ano seguinte (The Mavericks). Ambas ganharam fama abrindo shows dos Hollies, Yardbirds, Georgie Fame e Spencer Davis. A idéia de uma nova banda veio quando os dois combos estavam num barco, a caminho da Alemanha, onde fariam uns shows. O novo repertório era mais centrado em covers da Motown: lançaram uns singles por um par de gravadoras e lá por 1968 tinham alcançado prestígio local e com a turma da indústria.

Em 1969 é lançado o LP “Beginnings”, creditado à banda Ambrose Slade: que dá com os burros n´água. Mas impressionaram Chas Chandler: o baixista do Animals, que descobriu Jimi Hendrix, propôs empresariá-los. Sugeriu que compusessem suas próprias canções e a banda adotou um visual hooligan: um tiro que saiu pela culatra, à medida que esses jovens fãs de futebol ficavam e mais violentos. Mas foi com esse visual que a banda ganhou visibilidade no resto do país: uns sujeitos mal-encarados, feios pra diabo, usando roupas de peão-de-fábrica e fazendo muito barulho com suas guitarras.

Em 1970 eles adicionaram letra à faixa instrumental que abria “Beginnings” (coisa louca: havia sido o single!) e “know who you are” sai no primeiro álbum creditado ao Slade (sem o Ambrose): com “Play it Loud” aconteceria o mesmo que acorreu com “Man of Words / Man of Music” de Bowie: apesar do fracasso inicial, o público e a crítica terminaram por abraçar o disco, na esteira dos sucessos seguintes. (O disco de 1969 de Bowie seria relançado como “Space Oddity” em 1972.)

Então eles finalmente fazem um gol de placa: "Coz I Luv You" inaugura uma parceria tão entrosada e marcante quanto Lennon & McCartney: Holder & Lea. A grafia marota das palavras seria uma das marcas registradas da dupla e revoltou os professores de inglês. Mais golaços: "Look Wot You Dun" sai em 1972 e meses depois o disco ao vivo chega ao segundo lugar nos mais vendidos – e fica 52 semanas nas paradas. Em 1973 mais uma proeza: pela primeira vez desde “get back” dos Beatles um single chega direto no primeiro lugar, sem escalas, logo que chega às lojas de discos: “cum on feel the noize” acabaria conquistando também os EUA (sempre indiferente às visitas do Slade) – anos depois, na voz do Quiet Riot.

E aí o batera Don Powell bate o carro, em julho de 1973: sua namorada morre e ele entra em coma. A banda faz uma pausa e retorna triunfante, com o single “Merry xmas everybody”. Em 1974 cometem uma maravilhosa ousadia: lançam o filme “Slade in Flames” nos cinemas, e a trilha sonora, toda de material inédito e bem mais rebuscado em termos de arranjos, é dos meus álbuns prediletos do Slade (o quinto da discografia). Noel Gallagher, do Oasis, concorda comigo e já disse que “how does it feel” é “uma das melhores canções já escritas na história da música pop”.

O Slade está na batalha até hoje. Com o declínio do glam passaram uns anos tentando seduzir o Tio Sam, e quando voltaram pra casa, o punk estava explodindo: rescindiram contrato com a Polydor e criaram seu próprio selo. Continuaram sacanas e perigosos: no apagar das luzes da década de 70 tiveram um par de canções banidas da BBC por causa das menções ao sexo e à drogas, e se meteram nalgumas brigas – episódios narrados na canção "Knuckle Sandwich Nancy", de 1981. Em 1980 foram repentinamente convidados para substituir Ozzy Osbourne nos Festivais de Reading e Leeds e o single "My Oh My" estoura dos dois lados do Atlântico. Outra canção banidas das rádios inglesas, "7 Year Bitch", de 1985, marcaria esse segundo momento de sucesso, que persiste até 91, com o sucesso do single "Radio Wall of Sound".

O Slade é das bandas mais influentes e menos lembradas do rock.Em 2008 o Nikki Sixx, do Mötley Crüe, disse: " Alice Cooper, Bowie e Slade: esses putos deram 150 por cento. Era sobre moda, era sobre música, era sobre pirar o cabeção” (como vocês traduziriam “pushing the envelope”?!).

SWEET:

A história começa em 1962, com uma banda que logo se chamaria Wainwright's Gentlemen; da qual, por volta de 64, o Ian Gillan foi vocalista. Sim, o cara do Deep Purple. Em 1968 o cantor Brian Connolly e o baterista Mick Tucker abandonam o R&B e formam o Sweetshop, com pegada mais roqueira. Com a entrada do guitarrista Mick Stewart, que havia tocado com Johnny Kidd & The Pirates, encurtam o nome pra Sweet e lançam 2 singles, sem sucesso.

Só quando conhecem a dupla de compositores Nicky Chinn e Mike Chapman, por volta de 1970, é que a coisa realmente acontece. NA REAL É DA DUPLA CHINN & CHAPMAN QUE VALE A PENA FALAR.

O australiano Chapman se mudou para a Inglaterra junto com as banda Downliners Sect, em 1968. Insistiu em ficar mesmo após a dissolução da banda, e passou a se dividir entre a banda Tangerine Peel e um emprego como garçom. Foi no pub que conheceu Nicky Chinn, um judeu de família rica que já trabalhava como compositor. A química foi matadora: entre 1973 e 74 emplacaram 19 hits no Top 40 inglês, tornando-se dos nomes chaves da onda glam.

Os hinos “can the can”, “devil gate drive” e 48 Crash”, sucessos com a Suzie Quatro, foram escritos pela dupla. Com o Sweet emplacaram “wig-wan bam” “The ballroom blitz” e “teenage rampage”, entre outros. Usaram seu toque de Midas também no Mud e Smokie, outros expoentes do glam. Foram os reis do bubblegum purpurinado.

Mas Chinn bebia demais e o sucesso subiu à cabeça. Se mudaram para Beverly Hills e o parceiro se perdeu nos excessos, trabalhando cada vez menos, mas insistindo em assinar tudo o que o outro fazia. Em 1979 a dupla criou a gravadora Dreamland; o plano de Chapman era manter o sócio ocupado, enquanto se esforçava para definir-se individualmente como produtor. Também passou a compor sozinho. “Kiss you all over” foi dos maiores hits de 78, na voz da banda Exile. E que tal “Mickey”, que infestou as rádios em 1982, da voz de Toni Basil? Outra composição de Mike Chapman.

Debbie Harry odiou trabalhar com Mike Chapman, mas o disco que ele produziu, “Parallel Lines”, é o disco que consagrou o Blondie – “Hear of Glass”, lembra? A questão é polêmica: The Knack gastou apenas 11 dias e 17 mil dólares para produzir o LP “Get the Knack”. Champman tinha fama de tirano, mas sua concepção era que a banda tocasse ao vivo no estúdio, com o mínimo de overdubs. E com isso ele conseguiu “My Sharona”, dos mais brilhantes pérolas do power-pop que já escutei. E outro número 1 nas paradas.

Voltando ao Sweet: no verão de 1974, os membros do Sweet estavam de saco cheio do controle de Chinn & Chapman e descartaram seus mentores. O álbum feito por conta própria vendeu mal, mas em seguida eles arrebentam com seu primeiro esforço de composição, o single "Fox on the Run" - sucesso estrondoso nos EUA e Reino Unido.

Não há muito mais o que dizer, exceto recomendar o excelente disco “Level headed”, lançado em janeiro de 1978. Os fãs da fase glam talvez nem reconheçam a banda, mas o novo som era bem mais arrojado, com a banda ousando muito mais – já toquei a faixa de encerramento, "Air on 'A' Tape Loop", num set cheio de progressivos e krautrocks. A canção "Love Is Like Oxygen", single do disco, é uma obra-prima. Foi o último disco com a formação original: ainda tentaram mais 3 discos, até debandarem em 1982.


Errar é humano, insistir no erro é apenas burrice, dizia numa bisavó. DAVID BOWIE OFERECEU UMA CANÇÃO À BANDA MOTT THE HOOPLE: eles disseram não para "Suffragette City". Bowie estava tentando salvar a banda do bróder Peter Watts, que depois de 4 LPs lançados ainda não havia emplacado um sucesso. Reza a lenda que Bowie teve um segundo encontro, agora com o cantor Ian Hunter: pegou papel e caneta e escreveu, assim de sopetão, mais uma canção.

ALL THE YOUNG DUDES, lançada no verão de 1972, acabou sendo o primeiro sucesso de Bowie, graças à gravação do Mott The Hoople. A canção entraria de novo nas paradas na voz de Bruce Dickinson, do Iron Maiden, por ocasião de seu primeiro álbum solo, em 1990. Dois anos depois Bowie e Ian Hunter cantaram o hino no show em homenagem ao Freddie Mercury, em Wembley, acompanhados de Joe Elliot e Phil Collen (do Def Leppard) e dos remanescentes do Queen. (Uma curiosidade: a base de “move on”, que Bowie gravou em 1979, no “Lodger”, é “all the Young dudes” tocada de trás pra frente.)

Os caras eram músicos profissionais já há quase uma década. Pete Watts e Dale “Buffin” Griffin eram do The Soulents, Mick Ralphs e Stan Tippins do The Buddies. Se reuniram no The Doc Thomas Group em 1966 e passaram uns meses na Itália, lançando um disco por lá. De volta à Inglaterra se apresentaram como The Shakedown Sound e depois como Silence. Foi Guy Stevens, da Island, que sugeriu a troca de nome e de vocalista, jogando Tippins pra posição de road manager. Stevens havia lido um romance estranho na prisão, onde esteve por porte de drogas, e assim a banda passou a se chamar Mott The Hoople – título do livro de Willard Manus, sobre um sujeito excêntrico que trabalha num circo de horrores.

IAN HUNTER, que conquistou a vaga de cantor, era um teimoso. Nascido em 1939, era 5 anos mais velho do que o mais velho de seus companheiros. Havia lançado seu primeiro single em 1958 (!!!), com The Apex Group, e por muito tempo trabalhou durante o dia em fábricas (automotivas, principalmente): casou cedo e seu primeiro filho nasceu em 1962. Foi em Hamburgo, na Alemanha, fazendo shows com The Shriekers, que Hunter começou a acreditar que podia viver só de música. Gravou também The Scenery, inclusive em sessões que contaram com Johnny Gustafson, que substituiu Brian Eno no Roxy Music. Pouco antes de conseguir o emprego no Mott The Hoople, Hunter pagava o leite das crianças trabalhando como jornalista para pequenos jornais.

ALL THE YOUNG DUDES, o álbum, foi produzido pelo Bowie e contou com arranjos de Mick Ronson. O LP abre com uma versão para “Sweet Jane”, e é essa é a versão que popularizou a canção do Lou Reed no Reino Unido. (Eles chegaram a gravar, noutra ocasião, a canção “Drive in Saturday”, mas Bowie não gostou do resultado final, e esse parece ter sido o capítulo final dessa colaboração.) Mas não pense que faltavam bons compositores no Mott The Hoople. Seu som é mais swingado e suave do que o do Slade, por exemplo, e está longe do bubblegum da dupla Chinn & Chapman (Sweet, Suzie Quatro, Mud etc): eu descreveria como um amálgama do alto astral californiano de fins dos anos 60 com aquilo que os Teddy Boys escutavam em seus pubs prediletos. O disco de 72 tem grandes canções escritas por Ian Hunter: "One of the Boys" (parceria com Ralphs) e "Jerkin' Crocus", por exemplo. Mick Ralphs assina sozinho uma única canção: "Ready for Love/After Lights"é das minhas prediletas, um hard rock que desemboca numa balada soul, maravilhosa.

No disco seguinte, “Mott”, já não há covers, e o hot “all the way from Memphis” é simplesmente genial. e, como o “Honaloochie Boogie”, outro hit, conta com o saxofone de Andy Mackay, do Roxy Music. Ralphs cai fora para fundar o Bad Company e é substituído por Luther Grosvenor do Spooky Tooth. (Mick Ronson também assumiu a guitarra solo, sempre que os amigos precisavam, em diversos shows.) Pra teres uma idéia da popularidade que a banda alcançou: seus shows na América, em 1973, foram abertos pelo Aerosmith, e em casa a banda de abertura, em 74, foi o Queen. O meu disco predileto da carreira solo do Ian Hunter é “All American Alien Boy”, de 1976, e na canção “You Nearly Did Me In" o coro é feito por ninguém menos do que Freddie Mercury, Roger Taylor e Brian May (!!!) – só tem craque nesse LP: Jaco Pastorius, Dave Sanborn e Aynsley Dunbar entre eles.

“Now i´m here”, do Queen, celebra a amizade entre as bandas com o verso "Down in the city, just Hoople and me." (“Man on the moon”, do R.E.M., começa com Michael Stipe cantando: “Mott the Hoople and the Game of Life, yeah, yeah, yeah, yeah...”).

Já o vínculo profissional entre Ian Hunter e o resto da banda não sobreviveu à pressão por novos hits que o sucesso trouxe, e logo após o lançamento de “Hoople”, em fins de 1974 o cantor pede demissão. A banda lança mais dois álbuns com o nome encurtado e se transforma no British Lions, que dura pouco.

A CARREIRA SOLO DE IAN HUNTER começa com um disco que talvez devesse ter o nome do Mick Ronson também impresso na capa. Além de todas aquelas guitarras fenomenais, Mick toca piano e cria arranjos para cordas e sopros. “Once Bitten, Twice Shy” é das melhores faixas de abertura de um disco de rock de todos os tempos. Um épico impulsionado por um piano honky tonky que no clímax vira um festival de riffs de guitarra, uma prova do que o rock pode ser tão furioso quando rebolativo. Seguido de um blues, “who do you love”, pra carinha desenrolar a situação ao pé do ouvido da gatinha.

Mick Ronson produziu / tocou guitarra em mais um disco de Ian Hunter: “You´re never alone with a Schizophrenic”, de 1979. John Cale, ex-Velvet Underground, participa, bem como vários membros da E Street Band, do Bruce Springsteen. Ian Hunter deve ser o “mais americano” dos glam rockers. Em fins dos anos 90 a banda Presidents of The United States of American gravou um cover de “Cleveland Rocks”, canção que fez tanto sucesso no estado ao qual o título se refere que se tornou hino dos times locais! No mesmo ano, o ano em que eu nasci, Ian Hunter recebeu as chaves da cidade das mãos do prefeito Dennis Kucinich.

HUNTER FAZ JUS AO NOME E É IMPLACÁVEL: CAPTURA GRANDES GUITARRISTAS pros seus discos! O disco seguinte, “Welcome do the Club” foi promovido com uma turnê que teve o Todd Rundgren como guitarrista solo. Em 1981 chamou Mick Jones, do Clash, pra co-produzir o LP “All of the good ones are taken”. E no disco “Overnight angels”, de 77, as guitarras são do Earl Slick, outro colaborador regular do Bowie.

Dos álbuns mais recentes do Ian Hunter eu fortemente recomendo “Rant”, de 2001, e o seguinte “Shrunken Heads”, de 2007. No ano passado lançou um novo álbum, que traz a canção “fingers crossed”, composta em homenagem ao amigo David Bowie.


GRANDES PRODUTORES DO GLAM ROCK:

MICK RONSON queria ser violoncelista, até escutar a guitarra de Duane Eddy, Chegou em Londres em 1965, depois de dois anos tocando com várias bandas de Hull. Trabalhou como mecânico por um tempo, enquanto oferecia seus talentos musicais à Swinging London. Não rolou e ele voltou pra casa dos pais, formando a banda The Rats, que tinha também o batera Woody Woodmansey. Woddy e Mick ficariam universalmente conhecidos como dois dos SPIDERS FROM MARS: a banda que acompanhou o excêntrico ZIGGY STARDUST em sua turnê pelo Planeta Terra!

Mick estava apitando um jogo de rugby em Hull (uma das atribuições extras que tinham os jardineiros da prefeitura) quando o amigo John Cambrigde (ex-The Rats e na época na banda Junior´s Eyes) disse que o havia recomendado para a banda que David Bowie estava montando. Desiludido com a cena londrina, Mick relutou, mas dois dias depois compareceu aos estúdios da BBC, onde John Peel apresentou aos ouvintes David Bowie & The Hype. Reza a lenda que Bowie e Mick se deram bem porque ele era fã do Jeff Beck, que Bowie também estava curtindo pacas. Bowie já disse também que o demitiu pelo mesmo motivo: alguns anos depois, nosso adorado Camaleão queria mudar de pele, e as referências musicais de Ronson continuavam as mesmas.

MICK RONSON NÃO FOI APENAS UM GUITARRISTA INCRÍVEL: era multi-instrumentista e grande arranjador. Tocou o piano de “Perfect day” e “Satellite of love”, ambas de “Transformer”, disco de Lou Reed que co-produziu com Bowie. Mick compôs as cordas para, por exemplo, “Life on mars”, e os sopros de “sea diver”, do álbum “All the Young dudes” do Mott The Hoople. Ainda que bastasse suas guitarras nos discos “Ziggy Stardust”, “Alladin Sane” e “Pin Ups” para lhe garantir um lugar no panteão do rock´n´roll. Em 1974 a revista Creem pediu que seus leitores elegessem os melhores guitarristas do ano: Mick Ronson ficou em segundo lugar, atrás de Jimmy Page e na frente de Eric Clapton!

“Diamond Dogs”, o canto de cisne do Bowie glam, sai em 1974, já sem Mick Ronson. Quarenta anos depois Bowie disse numa entrevista que “Mick foi o perfeito complemento para o personagem Ziggy. Ele era um tipo muito cru, o interiorano sem firulas com um jeitão muito másculo, então o que conseguimos foi um lance Yin e Yang. Como uma dupla roqueira acho que fomos tão bons quanto Mick e Keith ou Axl e Slash. Ziggy e Mick foram a personificação desse dualismo do rock”.

Mas Mick não desistiu do glam rock: os LPs “Slaughter on 10th Avenue” (74) e “Play Don´t Worry” (75) são impecáveis, e neles Ronson usa e abusa de todas as qualidades que emprestou aos discos mais famosos do gênero. Há um terceiro álbum, que a RCA se recusou a lançar por causa do fracasso comercial dos anteriores, e que só veio à luz três anos após a morte de Mick Ronson, em 1993. O câncer impediu que ele visse seu quarto e derradeiro álbum finalizado: “Heaven and Hull foi lançado em maio de 1994 e tem participações de Bowie, Joe Elliott, Ian Hunter, Peter Noone, Martin Chambers, Chrissie Hynde e John Mellencamp.

Ao longo da carreira Mick trabalhou com Van Morrison, Bob Dylan, Roger Daltrey, Dabello, Slaughter & The Dogs, Elton John, John Mellencamp, T-Bone Burnett, Iron City Houserockers, Phil Rambow & Los Illegals, The Rick Kids e Roger McGuinn, entre outros. Meu disco predileto do Morrissey, “Your Arsenal” (1992), foi produzido por Ronson e é fortemente influenciado pela estética glam. Mick Ronson nunca tinha ouvido falar no cantor, muito menos em The Smiths, quando recebeu o convite! Seu parceiro mais recorrente foi Ian Hunter, com quem gravou cinco discos entre 1975 e 1990.

TONY VISCONTI produziu simplesmente TODOS os discos do Tyrannosaurus Rex / T. Rex. E outra obra-prima do glam: “Indiscreet” do Sparks.

O mais duradouro parceiro de Bowie, Tony Visconti foi baixista da banda The Hype, que Bowie montou no início de 1970 - o time era completado por Mick Ronson na guitarra e John Cambridge na bateria. Daí nasce o álbum “The Man Who Sold the World”, produzido por Visconti e composto a partir de jam sessions – nas quais Bowie estava pouco interessado: o cantor esteve ausente em várias delas, escrevendo as letras conforme a turma ia apresentando os resultados. Com o auxílio do engenheiro de som Ken Scott, Bowie produziu os próprios discos entre 71 e 73, antes de devolver a batuta pra Vinconti, que produz então Diamond Dogs (1974), Young Americans (1975), Low (1977), "Heroes" (1977), Lodger (1979) e Scary Monsters (And Super Creeps) (1980). Você também acha que Bowie voltou à boa forma com Heathen, de 2002? Produção de Tony Visconti, assim como Reality (2003), The Next Day (2013) e Blackstar (2016).

(é recorrente e equivocado dizer que Brian Eno produziu discos do Bowie– a “fase Berlin”, como ficou conhecida. Trabalharam juntos, sim. E esses esforços conjuntos tem a marca do Eno. Mas o ex-Roxy Music NUNCA produziu um disco do Bowie.)

Visconti nasceu no Brooklyn e começou tocando ukulele aos cinco anos. Na adolescência tocou tuba e contrabaixo, antes de tornar-se guitarrista de rock aos 15 anos.Em 1960 conseguiu seu primeiro trabalho como músico de estúdio e sua fama cresceu no circuito de bares de Nova Iorque. Conheceu sua esposa enquanto excursionava com The Crew-Cuts (combo de sucesso dos anos 50) e juntos lançaram 2 singles: “long hair”, creditado à Tony & Siegrid, foi um hit local em 1966. Partiu para Londres para produzir Georgie Fame, pianista de R&B que era uma estrela da cena mod. Ao produzir o disco de estréia do Badfinger ganha de vez o respeito dos ingleses.

NOS ANOS 70 produziu ainda Gentle Giant, Magna Carta, Osibisa, Strawbs, Argent, Caravan, Iggy Pop e Thin Lizzy, entre outros. Nos anos 80 trabalhou com Hazel O´Connor, Boomtown Rats, Stranglers (o ótimo La Folie, de 81), John Hiatt, Altered Images, Adam Ant, Modern Romance e Les Ritas Mitsouko. E na década seguinte produziu Moody Blues, Luscious Jackson, Annie Haslam e Seahorses. São apenas alguns exemplos, seu currículo é imenso.

NOS ANOS 2000 produziu Angélique Kidjo, The Dandy Warhols, Prefab Sprout, X, Dean & Britta, Alejandro Escovedo, o segundo disco conjunto de Neil e Tom Finn (do Crowded House), Manic Street Preachers, Richard Barone, Marc Almond e Morrissey (o incrível “Ringleader of the Tormentors”), entre outros!

Precisa dizer mais alguma coisa? O cara é um selo de qualidade!


NÃO PODIA FALTAR uma homenagem a 3 figuras fictícias, mas essenciais pro Glam Rock:

Dr. Frank-N-Furter, encarnado por Tim Curry no Rocky Horror Show,
+ Brian Slade, encarnado por Jonathan Rhys Meyers no filme Velvet Goldmine
& finalmente Hedwig, criação do genial John Cameron Mitchell!


E SE O ROCK IN RIO FOSSE UM FESTIVAL DE ROCK?

pois bem. Se eu tivesse tudo o que gostaria de ter em vinil.... eu montaria um dia glam pro RiR 2017. Tem várias bandas atuais bebendo na fonte (tem um "neo-hair-metal-farofa" rolando que eu adoro). Ficaria assim:

ANOHNI se chamava Antony antes da operação de mudança de sexo. Lançou 4 discos na década passada sob a alcunha de Antony & The Johnsons, mais dois discos com o novo nome. Sua obra prima é "I am a bird now", com participação do Lou Reed e a capa é uma foto da Candy Darling em seu leito de morte - travesti que foi da turma do Andy Warhol.

JOHN GRANT nasceu em 1968, em Denver, nos EUA. Teve uma banda chamada The Czars - que lançou cinco álbuns entre 1996 e 2005. Em seu segundo disco solo John assumiu publicamente que é soropositivo. Seu terceiro disco, de 2015, tem participações da Tracey Thorn, Amanda Palmer e Budgie (batera da Siouxsie & The Banshees).

RUFUS WAINWRIGHT: superestrela, não tem o que explicar.

MIKA debutou em 2007 e lançou 4 discos até agora, o último de 2015. Inglês de origem libanesa, faz a ponte entre o rock a la Elton John e o pop a la Kate Perry.

e aumentando a pressão, fazendo a passagem pro "rockão":

CATS IN SPACE, que foi fundada em 2015 e acaba de lançar seu segundo álbum. Esses ingleses bebem tanto em Mott The Hoople e Slade quanto em Cheap Trick e Big Star. Power pop da melhor qualidade, com um tempero "rock oitentista de arena".

Pra cair no revival "hair metal farofeiro" que faria a alegria dos fãs de Bon Jovi, Mötley Crüe, Poison, Van Halen, Cinderella, Twisted Sisters etc: CRASHDIET (Suécia) TEMPT e RECKLESS LOVE (Finlândia).

FOXY SHAZAMé atualmente das minhas bandas prediletas. De Cincinnati, Ohio, lançaram cinco discos a partir de 2005. É uma versão "indie" do Queen, com uma performance de palco absurda (e um trompetista como membro fixo da banda!). "The Church of Rock´n´Roll" foi produzido pelo Justin Hawkins, do Darkness.


e.... deixaria o ALICE COOPER, mas o botaria no maior palco, fechando a noite! Ele merece!

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